Intoxicação de crianças por medicamentos preocupa

4

Em 2017, Ciatox atendeu 1.822 casos – as crianças foram as principais vítimas

 

Os remédios devem ficar em um local que possa ser trancado: em 2017, Ciatox atendeu 1.822 casos - as crianças foram as principais vítimas

Todos os dias, cerca de 37 crianças e adolescentes, com idades de zero a 19 anos, sofrem com os efeitos da intoxicação pela exposição inadequada a medicamentos no Brasil. Essa é a principal conclusão de um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que revelou o impacto negativo do problema para a saúde dos mais jovens.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações Toxico-farmacológicas (Sinitox), cerca de 245 mil casos de intoxicação atingiram crianças nessa faixa etária nos últimos 18 anos. Desse total, 240 morreram em consequência da ocorrência, o que representa uma média de mais de uma morte por mês.
Em Campinas, um levantamento do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que a intoxicação pelo consumo de remédios correspondeu a 33,62% dos casos do Instituto, mais que o dobro, por exemplo, dos atendimentos por picadas de animais peçonhentos e consumo de produtos químicos.
O estudo foi feito com base nos 5.420 atendimentos realizados no Ciatox, ao longo do ano de 2017. Desse total, 1.822 foram voltados somente a ingestão de remédios – as principais vítimas foram as crianças.
 
Ignorância
 
A professora Patricia Moriel, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, explica que a intoxicação medicamentosa ocorre quando determinado fármaco é utilizado em doses acima daquelas que foram prescritas. Ela afirma que crianças menores de cinco anos, por serem muito curiosas, são as principais vítimas, enquanto os pais são os grandes responsáveis pela exposição indevida dos remédios.
Em muitos casos, a intoxicação ocorre porque a droga foi colocada em um local de fácil acesso. “O ideal é colocá-lo em um lugar que não seja úmido, nem quente, e que possa ser trancado. A altura, nesse caso é relativa, porque uma criança pode puxar uma cadeira, subir e pegar o remédio se ela quiser”, explicou.
Outro ponto citado pela especialista é a ignorância de alguns pais. Segundo ela, muitos deles não tem o mínimo de conhecimento médico, mas, mesmo assim, acabam medicando seus filhos com remédios que possuem uma intensidade alta. “Nos já atendemos casos de crianças que chegaram intoxicadas ao hospital porque o pai ficou dando o remédio, de hora em hora, afirmando que a febre da sua filha não abaixava. Quando questionado pelos médicos, ele disse que ela estava com 35 graus. Ou seja, ela não estava com febre”, frisou.
Além de não serem cuidadosos, Moriel destaca ainda que muitos pais evitam discutir o tema com seus filhos, optando por não explicar o que é um medicamento e para o quê ele serve. “Aquela história da mãe chegar e falar para o filho: ‘Toma isso aqui. Ele é docinho’ é complicadíssimo, porque toda vez que a criança quiser comer qualquer doce, ela vai procurar por esse medicamento (em casa)” , disse.
Questionada sobre qual seria a melhor forma de orientar os jovens, Moriel disse que os pais não devem enganar as crianças e sim explicar que quando uma pessoa toma um determinado medicamento está procurando um tipo de ajudar para curar uma doença.
“Certa vez, eu estava dando aula para farmacêuticos e uma das alunas comentou comigo que o filho dela tomou um frasco inteiro de paracetamol porque a droga tinha um sabor gostoso”, contou.
A docente frisou ainda que as instituições de ensino deveriam ter um papel mais atuante dentro das salas de aulas. “Os fármacos, querendo ou não, fazem parte da matéria de biologia, mas sequer são citados ou discutidos nas escolas. Isso deveria ser feito desde cedo, com o objetivo de mostrar para as crianças: o que é um medicamento e para o quê eles servem”, pontuou.
Questionada sobre o que fazer quando uma criança toma uma medicação sem necessidade, a professora Patricia Moriel informou que o melhor a se fazer é ligar imediatamente para o Ciatox em busca de uma avaliação médica. Ela ressaltou ainda que os pais devem evitar conselhos de terceiros ou buscar por informações na internet. “Sempre tem aquela pessoa que aconselha a fazer o filho vomitar e tudo mais. Não façam isso sem antes procurar o Ciatox. Uma ação dessas pode ser ainda mais prejudicial”, explica a especialista.
 

Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2018/08/campinas_e_rmc/581644-intoxicacao-de-criancas-por-medicamentos-preocupa.html#

Artigo anteriorPesquisa da FCF sobre a relação de mulheres com os anticoncepcionais.
Próximo artigoTrabalho de aluna da FCF é eleito como o melhor apresentado na Escola de Inverno em Assistência Farmacêutica e Farmácia Clínica