Leonardo Costalonga Rodrigues, aluno do Programa de Pós-graduação em Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi selecionado como representante dos estudantes da The Ethical, Legal, Forensics, and Societal Issues Specialty Section (ELFSI) da Society of Toxicology (SOT). Ele ocupará o cargo até 2025. A Sociedade reúne cerca de 8 mil membros de 70 países.
O aluno conta que a seleção veio meses após receber o Graduate Student Award pela ELFSI, em conferência da SOT. “Em ambas as ocasiões fiquei surpreso por ser o escolhido, mas também muito feliz. Após ter feito parte de algumas representações nacionais, uma internacional com certeza impulsionará minha carreira”. Leonardo conta que a atual gestão planeja o congresso de 2025 da SOT, que deve reunir mais de cinco mil pessoas.
Leonardo espera compartilhar os conhecimentos que adquiriu em experiências anteriores, como no Comitê de Jovens Toxicologistas da Sociedade Brasileira de Toxicologia e na Liga Acadêmica de Toxicologia da Unicamp. Além disso, destaca que sua chegada à posição na ELFSI foi impulsionada também pelo doutorado sanduíche, iniciado em 2022 na FCM e atualmente em andamento na University of Utah, nos Estados Unidos. Essa experiência permitiu sua participação na conferência da SOT e resultou na premiação e eleição pela ELFSI.
“Em minha principal área de atuação na toxicologia, a discussão de questões éticas e legais se faz de grande valia, dada a grande diversidade de problemas de saúde e sociais relacionados ao consumo ilícito de substâncias. Como representante estudantil, acredito que consigo ter uma visão diferente do cenário que cerca essa temática”, pontua o estudante.
Para José Luiz da Costa, orientador de Leonardo no PPG e coordenador do Laboratório de Toxicologia Analítica da Unicamp, ter um representante brasileiro em uma das seções especializadas da SOT demonstra o crescimento da toxicologia no Brasil. “O fato deste representante ser de nossa universidade reforça a importância que a Unicamp tem para o ensino e pesquisa na área no país”, completa.
Além disso, o docente acrescenta: “a representação na ELFSI eleva a visibilidade internacional do Programa de Pós-graduação em Farmacologia da FCM, além de facilitar a realização de colaborações científicas globais, fortalecendo a pesquisa e o ensino em nossa instituição”.
Sobre a ELFSI
A Seção de Especialidade em Questões Éticas, Legais, Forenses e Sociais é voltada a toxicologistas interessados no impacto mais amplo da pesquisa, tanto na tomada de decisões bioéticas e sociais quanto na condução e aplicação de estudos em toxicologia. Seus objetivos incluem explorar como a pesquisa contribui para o pensamento bioético e a formulação de políticas públicas, além de servir como ponto de encontro para membros da Sociedade de Toxicologia que desejam discutir questões éticas, legais, forenses e sociais.
Sobre a SOT
Fundada em 1961, a Society of Toxicology é uma organização profissional e acadêmica de cientistas de instituições acadêmicas, governo e indústria, representando a grande variedade de cientistas que praticam toxicologia nos Estados Unidos e no exterior. A missão da SOT é criar um mundo mais seguro e saudável, avançando a ciência e aumentando o impacto da toxicologia.
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais promoveu, nos dias 9 e 10 de agosto, a sexta edição do Ciência Aberta, que acontece desde 2016. A edição de 2024 é a segunda a ser promovida após uma interrupção de três anos devido à pandemia de Covid-19. Neste ano, foram dois dias de evento, o primeiro deles reservado a excursões de estudantes desde o ensino fundamental até o ensino superior. Ao todo, o público foi de mais de 21 mil pessoas.
Esta importante iniciativa de divulgação científica contou com o apoio de pós-graduandos da FCF. O Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas conta com a participação de pesquisadores dos Laboratórios Nacionais do CNPEM em seu corpo docente e discente desde 2020. No segundo semestre de 2024, nove mestrandos e oito doutorandos da FCF desenvolvem pesquisas naquele centro, sob orientação de Adriana Franco Paes Leme Squina, Ana Carolina Migliorini Figueira, Artur Torres Cordeiro, Daniela Barretto Barbosa Trivella, Gustavo Fernando Mercaldi, Marcio Chaim Bajgelman, Paulo Sergio Lopes de Oliveira e Silvana Aparecida Rocco, do Laboratório Nacional de Biociências, e de Leticia Maria Zanphorlin Murakami, do Laboratório Nacional de Biorrenováveis.
“O evento foi planejado para tornar a ciência acessível e interessante para pessoas que não tem contato com esse meio, desde crianças até adultos. Um grande destaque foram as áreas de experimentos e oficinas ao vivo, onde visitantes podiam participar de forma ativa. Cada estande oferecia explicações sobre projetos científicos em andamento no CNPEM e instituições parceiras. Os voluntários se esforçaram em passar conhecimento de forma lúdica, por demonstrações práticas e modelos tridimensionais ou maquetes, que simulavam sistemas biológicos e explicavam fenômenos naturais”, explicou o estudante de Doutorado em Ciências Farmacêuticas Henrique Niero, que participou da organização e apresentação de oficinas e estandes relacionados à descoberta de fármacos.
“Foi um evento muito bom. Mostramos modelos 3D de proteínas e também estruturas de proteínas em um tablet com óculos 3D para ficar mais clara a conformação tridimensional desse mundo para os visitantes. Achei bem legal o interesse das pessoas, e como tornar tudo mais palpável aproxima o público, fazendo entender algo muitas vezes abstrato de forma mais concreta”, avaliou o doutorando Amauri Donadon Leal Junior, que participou da apresentação do Laboratório de Biologia Computacional do LNBio.
A mestranda em Ciências Farmacêuticas Bárbara Carvalho dos Reis, voluntária na atividade Explorando o mundo do DNA, voltada para crianças, onde puderam aprender a extrair DNA de banana com reagentes caseiros, como sal de cozinha e detergente, também teve uma avaliação positiva do evento. “Eu poderia passar horas falando do Ciência Aberta, pois amo o evento e a oportunidade de divulgação científica para a comunidade. Foram dias intensos de muito trabalho, mas igualmente recompensadores. Cada pessoa que passava pela nossa oficina e saía inspirada de alguma forma, com um sorriso no rosto ou maravilhada vendo o experimento dar certo, renovava a minha motivação e fé na pesquisa. A ciência nada é quando olhamos apenas para o individual. Ciência é feita em conjunto e só faz sentido quando retorna para o coletivo, seja de forma material ou através do conhecimento. É por isso que fazemos pesquisa: para todos”.
Da mesma forma, Henrique Niero refletiu sobre a importância da divulgação científica para os pós-graduandos. “O evento proporcionou aos pesquisadores e voluntários a conexão com o público, compartilhando seus estudos e interesses científicos. Por passar tanto tempo dedicados à pesquisa, dentro de grandes centros de alto nível, acabamos por perder a conexão com o que está fora desse contexto, e algo que é tão avançado e complexo do ponto de vista científico, acaba por se tornar comum entre pesquisadores da área. O Ciência Aberta consegue, dessa forma, renovar nossa energia como pesquisadores e lembrar que a pesquisa é feita para a sociedade e destacar a importância de tornar a ciência acessível para todas as pessoas”.
A professora do Instituto de Química da Unicamp Márcia Breitkreitz, credenciada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, faz o convite a todos os interessados: “Neste curso, você, da área farmacêutica e áreas afins, poderá aprender os fundamentos dos métodos de Planejamento de Experimentos (DOE – Design of Experiments) de maneira aplicada dentro do contexto de Quality by Design. Além de mergulhar na teoria e na prática dos diferentes métodos de DOE, no curso eu apresento aspectos regulatórios com guias nacionais e internacionais, aspectos importantes discutidos em fóruns (Q&A) e aplicações com muitos artigos científicos. Serão 32 horas de um intenso aprendizado e troca de informações!”.
Ementa: Introdução: Por que utilizar métodos multivariados? O conceito de interação entre variáveis, o guia ICH Q8 e os conceitos de Quality by Design e Design Space. Planejamento fatorial em dois níveis: como montar o planejamento, cálculo dos efeitos dos fatores, erros e intervalos de confiança, construção do modelo estatístico, gráfico de probabilidade Normal, análise da variância (ANOVA), ferramentas de diagnóstico, construção e interpretação da superfície de resposta, avaliação da curvatura. Planejamento fatorial fracionário para triagem de fatores: como selecionar os experimentos, relação geradora, frações, resolução, como selecionar um fracionário sem perder informações, como completar o planejamento fracionário. Planejamento composto central (3 níveis): construção e avaliação do modelo quadrático, construção, avaliação e deslocamentos na superfície de resposta. Utilização do modelo para previsão das propriedades de interesse: como encontrar as condições experimentais que levem a um determinado valor da resposta (valor alvo), maximização e minimização de respostas, definição do Design Space. Otimização simultânea de mais de uma resposta: sobreposição de mapas de contorno e procedimento baseado nas funções de Derringer e Suich. Planejamentos de mistura: porque existem métodos diferentes para otimização de misturas, conceitos importantes, representação do domínio experimental e os modelos de misturas.
Errata: O prazo para inscrição foi alterado de 1/9/2024 para 30/11/2024. O texto foi corrigido.
Texto Marina Gama | Fotografia Antonio Scarpinetti
Nesta segunda-feira (12), o professor Jörg Kobarg assumiu a direção da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp em cerimônia de posse, sucedendo o professor Rodrigo Ramos Catharino. Kobarg ocupará o cargo até 2028. Por sua vez, a professora Wanda Pereira Almeida assume como diretora associada, em substituição à professora Priscila Gava Mazzola.
Professor titular e pesquisador da FCF, Kobarg tem uma sólida formação acadêmica: graduou-se em Biologia e obteve seu mestrado e seu doutorado na Christian-Albrechts-Universität zu Kiel, na Alemanha. Posteriormente, realizou dois estágios de pós-doutoramento nos Estados Unidos, onde permaneceu entre 1996 e 1998. No Brasil, destacou-se como pesquisador e líder do grupo de Biologia Molecular do Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), além de ter coordenado o programa de pós-graduação da FCF entre 2017 e 2021.
Em seu discurso de posse, Kobarg agradeceu a docentes, funcionários, alunos, à comissão eleitoral e a sua nova associada, destacando a disposição dela em aceitar o desafio de acompanhá-lo na gestão da faculdade. O novo diretor manifestou o desejo de que sua gestão seja uma fase de crescimento para a FCF, atualmente a menor unidade da Unicamp, com 18 docentes e uma pesquisadora.
No planejamento de Kobarg, destaca-se a implementação de um curso de graduação em Farmácia no período noturno, uma iniciativa que pode beneficiar tanto a Unicamp quanto as empresas farmacêuticas da região, permitindo que os estudantes trabalhem durante o dia e estudem à noite. Além disso, o pesquisador propôs a ampliação do quadro docente e da infraestrutura da faculdade, enfatizando a necessidade de desenvolver um projeto institucional de pesquisa e a criação de um mestrado profissional.
Kobarg encerrou seu discurso solicitando o apoio de toda a comunidade acadêmica para a realização dos objetivos propostos. “Temos as ideias e nossos projetos, mas para realizá-los precisamos da própria faculdade, dos funcionários, dos docentes e do apoio do resto dos colegas da Unicamp, para tornar esses quatro anos tão bem-sucedidos como os quatro que nos antecederam”.
Cerimônia de posse aconteceu nesta segunda-feira (12) e foi presidida pelo reitor Antonio Meirelles
Catharino, que liderou a faculdade durante a gestão 2020-2024, também se pronunciou, expressando gratidão pelo apoio recebido de colegas e da comunidade da Unicamp durante sua gestão, especialmente nos desafios enfrentados durante a pandemia. “Estar à frente da faculdade durante a pandemia foi desafiador, mas também gratificante. Destaco as palavras gratidão e milagre, por ter tido a oportunidade de servir de alguma maneira nesse período”, afirmou.
O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, destacou o crescimento da graduação como o principal desafio para os próximos anos, alinhando-se às metas propostas por Kobarg. “A FCF é uma unidade nova, 20 anos de curso, 10 anos de FCF, mas já é uma unidade bastante vitoriosa. Apesar dos desafios mencionados pelo Kobarg, não tenho dúvida de que a FCF já vem colocando as bases para um grande e excelente futuro.”
Meirelles ainda ressaltou a importância da pesquisa integrada ao desenvolvimento tecnológico. “Precisamos fazer da área da saúde uma área que seja capaz de também gerar desenvolvimento, não só naquilo que é mais especificamente relacionado à assistência à saúde, mas à tecnologia”, concluiu.
Carolina Dagli Hernandez, doutora em ciências farmacêuticas pela USP e pós-doutoranda da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, no Laboratório de Farmácia Clínica, sob supervisão da professora Patricia Moriel, foi ouvida pelo UOL a respeito da farmacogenética.
Estudo explora potencial antioxidante e cicatrizante de polifenol presente no chá verde
O Jornal da Unicamp publicou reportagem de autoria de Felipe Mateus e fotografias de Antonio Scarpinetti sobre a pesquisa de mestrado em Ciências Farmacêuticas de Lucélia Luisa da Silva, defendida em maio, com orientação do Prof. Dr. Paulo Cesar Pires Rosa e coorientação de Iara Lúcia Tescarollo. Lucélia se graduou no Instituto de Química da Unicamp e atualmente é analista da Central de Análises – Laboratório de Caracterização de Biomassa, Recursos Analíticos e de Calibração – LRAC da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp.
O consumo de chá é uma tradição que se confunde com a história da civilização, havendo registros da prática que remontam a 5 mil anos. Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que a produção mundial de chá movimenta US$ 17 bilhões, enquanto seu comércio global gera US$ 9,5 bilhões em faturamento todo ano. Por definição, apenas as infusões de folhas da espécie Camellia sinensis podem ser chamadas de chá. As variedades da bebida – chá preto, verde, oolong, branco etc. – nascem dos diferentes tipos de processamento das folhas daquela espécie de planta. Entre essas variedades, o chá verde é um dos mais reconhecidos por suas propriedades antioxidantes, anticancerígenas, anti-inflamatórias e de combate ao colesterol LDL, contribuindo para a saúde cardiovascular e para a atividade cerebral.
Os benefícios do chá verde devem-se à presença das catequinas, classe de polifenóis com grande potencial antioxidante. Dessas, a epigalocatequina-3-galato (EGCG) mostra-se a mais abundante, correspondendo a algo entre 50% e 80% das catequinas presentes na bebida. Estima-se que uma xícara de chá verde contenha de 200 mg a 300 mg de EGCG. A forma mais simples de auferir os benefícios desse polifenol é pela ingestão do chá. Porém uma pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp explorou maneiras de aplicar a EGCG do chá verde em formulações tópicas, a serem usadas diretamente na pele, e isso por conta de suas propriedades antioxidantes e cicatrizantes. A dissertação de mestrado sobre o assunto foi realizada por Lucélia Luísa da Silva com orientação do professor da FCF Paulo César Pires Rosa e coorientação da professora Iara Lúcia Tescarollo, da Universidade São Francisco (USF).
Poderoso antioxidante
O consumo de alimentos antioxidantes revela-se importante porque essas substâncias neutralizam a ação de radicais livres, moléculas geradas pelo metabolismo do organismo ou por conta de estímulos externos. Esses radicais livres possuem um alto potencial de reação com outras moléculas, como as proteínas, os lipídios e o DNA, o que pode acelerar o envelhecimento celular e comprometer a atividade de órgãos e do sistema imunológico. Os antioxidantes neutralizam os radicais livres porque também são moléculas altamente reativas. Nessa reação, eles transformam esses radicais em moléculas estáveis, impedindo que reajam com outras. Por isso é comum vê-los incorporados a medicamentos e produtos cosméticos. “Na medida em que um produto é antioxidante, ele mantém intacto os componentes com ação benéfica para a pele, por exemplo, ao mesmo tempo que ele mesmo se oxida”, explica Rosa. Por se tratar de um poderoso antioxidante, as moléculas da EGCG também são altamente reativas, o que torna sua incorporação a produtos tópicos um desafio.
No entanto o desenvolvimento de medicamentos para aplicação direta na pele pode garantir a ação da molécula eliminando o risco de ela sofrer modificações que comprometam seu efeito. “Quando ingerimos a EGCG pelo consumo do chá, por exemplo, ela não necessariamente terá um efeito antioxidante no local desejado”, informa Silva. “Com a aplicação tópica, conseguimos disponibilizar o composto diretamente no local de ação.”
A pesquisadora analisou as propriedades e a estabilidade de cinco formulações que levavam 1% de EGCG na sua composição: dois géis, dois cremes e uma pomada. Ao longo de intervalos de um mês, três meses e seis meses, Silva registrou dados como a densidade, o pH e o aspecto do produto e o teor de EGCG preservado na formulação. Por meio de testes in vitro, utilizando uma membrana sintética que simula a pele, a então mestranda também observou quais delas liberavam maior quantidade do composto.
Os resultados mostraram que, nos géis e nos cremes, as formulações apresentaram um pH entre 4,6 e 5,4, compatível com o da pele – por ter sido formulada apenas com compostos oleosos, não foi possível medir o pH da pomada. Nos géis e nos cremes, a EGCG ficou dissolvida, enquanto que, na pomada, ficou dispersa. Segundo a pesquisadora, isso possivelmente acarreta mudanças em outros parâmetros ligados ao desempenho dos produtos. Entretanto ressalta que não houve cristalização do composto previamente dissolvido ou alterações na morfologia após os seis meses, nem alterações nas fórmulas, o que é positivo. Nos testes de estabilidade realizados, transcorrido um semestre, a pomada manteve 98% do teor inicial de EGCG, seguida do creme 2, que manteve 76% do composto, e do gel 2, com 58% da concentração inicial.
Contudo o teste de liberação de EGCG mostrou que, na pomada, a liberação era quase insignificante, de apenas 0,05%. O gel 2 registrou uma liberação de 58,85% e o creme 2, de 3,61%. Ao ponderar o balanço entre a estabilidade da formulação e a liberação do composto, Silva concluiu que o creme 2 revelou-se o mais promissor nos testes in vitro. “O creme também apresentou uma textura mais agradável, o que é importante no contexto de um tratamento, por exemplo”, detalha.
Prof. Dr. Paulo Cesar Pires Rosa, orientador do estudo
Diabetes
A partir do potencial de aplicação da EGCG em produtos tópicos e das características dos produtos desenvolvidos no estudo, os pesquisadores consideram promissora a formulação de medicamentos que utilizem as funções cicatrizantes do composto. “Ainda não existem tantos estudos a respeito disso, tanto em relação às formulações como aos testes in vivo”, ressalta o orientador. Uma possibilidade é realizar testes com pacientes diabéticos, doença que causa problemas de cicatrização de feridas e que, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, afeta mais de 13 milhões de pessoas hoje no país.
Pensando em facilitar a continuidade das pesquisas com as formulações e uma futura aceitação desses produtos pelo mercado, todos os testes foram realizados já de acordo com as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto ao processo de desenvolvimento de medicamentos. Outra preocupação foi manter as formulações clean label, evitando o uso de compostos que podem causar malefícios à saúde, como os parabenos. Silva também destaca que, por se tratar de uma molécula conhecida e por utilizar excipientes amplamente empregados, grande parte dos processos já foi realizada. “É provável que testes futuros com diabéticos sejam facilmente aprovados”, projeta.
A professora Elisdete Maria Santos de Jesus, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, foi convidada para o Integra Podcast, no programa com o tema Acesso a medicamentos no SUS: o que precisamos saber?.
Ela participou ao lado de Ana Emília Ahouagi, gerente de assistência farmacêutica e insumos essenciais da Secretaria Municipal de Belo Horizonte. O programa teve mediação da professora Silvana Nair Leite, da UFSC, e apresentação da jornalista e sanitarista Yasmine Saboya.
O Integra Podcast é um programa que aborda temas relacionados ao direito à saúde, políticas públicas, assistência farmacêutica, acesso a medicamentos e mercado farmacêutico, entre outros. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Instituto Enfar, Fiocruz e o Conselho Nacional de Saúde, com apoio da OPAS/Brasil e da Fenafar. Surgiu com a missão de disseminar conhecimento de forma democrática, buscando uma aproximação com a sociedade visando popularizar cada vez mais os temas abordados.
As pesquisadoras Gislaine Leonardi (à esq.) e Renata Magalhães desenvolveram a nova formulação capaz de tratar vários tipos de lesões da pele | Crédito: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp
Fórmula dermatológica à base de diclofenaco de sódio e ácido retinóico, desenvolvida por pesquisadores das Faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCF) e Médicas (FCM) da Unicamp, apresenta resultados promissores no tratamento de uma série de afecções cutâneas
Texto: Christian Marra – Inova Unicamp | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp
As ceratoses actínicas são lesões de pele que podem afetar pessoas submetidas a uma excessiva e prolongada exposição ao sol. Ela se caracteriza pelo surgimento de manchas escamosas e ásperas na pele, geralmente de coloração marrom ou avermelhada, e é considerada uma lesão pré-maligna, ou seja, pode evoluir a um câncer de pele caso não seja tratada tão logo se manifeste. No Brasil, seu diagnóstico é um dos mais numerosos em termos dermatológicos, situação que se repete em muitos países.
Em virtude do elevado risco à saúde que a ceratose actínica pode provocar, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que reuniu especialistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), desenvolveu uma formulação dermatológica à base de uma associação de diclofenaco de sódio e ácido retinóico capaz de tratar, de forma eficaz, a ceratose actínica. A composição ainda oferece benefícios para condições como acne, melasma, foliculite, psoríase e dermatites, por exemplo. O diclofenaco de sódio é um medicamento com propriedades anti-inflamatórias, comumente usado para aliviar dores e inflamações. O ácido retinóico, por sua vez, é um derivado da vitamina A amplamente empregado na dermatologia devido à sua capacidade de renovação celular e sua ação antienvelhecimento. Combinar ambos em uma formulação parecia ser uma solução natural, mas o trabalho dos pesquisadores esbarrou em um obstáculo desafiador: os dois possuem baixa solubilidade em água, o que limitaria a possibilidade de se criar emulsões para uso tópico nos tratamentos de tais doenças.
Desafios para compor a formulação dermatológica
A baixa solubilidade em água dificulta que um ingrediente possa compor, por exemplo, emulsões ou géis – cremes ou pomadas, como são popularmente chamadas. Por isso, para reunir os dois componentes em uma formulação voltada à aplicação diretamente na pele, a pesquisa exigiu identificar outros agentes que assegurassem a sua estabilidade.
A professora da FCF, Gislaine Leonardi, que participou do grupo de pesquisa, explica que “era preciso encontrar agentes emulsionantes que garantissem a estabilidade de ambos, especialmente do ácido retinóico, cuja estabilidade é menor, o que diminui a vida útil de um fármaco, ou seja, seu prazo de validade fica reduzido. Boa parte dos esforços desta pesquisa concentraram-se na busca desses agentes para contornar o problema da baixa solubilidade em água do diclofenaco de sódio e do ácido retinóico”, comenta a pesquisadora.
Testes clínicos e primeiros resultados da formulação da Unicamp
inda segundo Leonardi, a equipe conseguiu chegar a uma formulação com uma boa estabilidade química e com a questão da solubilidade equacionada. O passo seguinte foi iniciar os testes clínicos para avaliar a sua eficácia. A professora da FCM, Renata Ferreira Magalhães, que também participou da pesquisa, promoveu uma parceria com o Hospital de Clínicas da Unicamp para a testagem dos pacientes.
Magalhães ressalta que, de forma rotineira, já são feitos vários tratamentos com produtos tópicos para ceratoses actínicas, incluindo ácido retinóico e diclofenaco, de forma separada: “O protocolo de tratamento com a nova formulação foi uma ótima oportunidade para o estudo. Essa pesquisa teve aprovação no Comitê de Ética da instituição e seguiu todos os requisitos para boas práticas em pesquisa clínica”, completa a professora.
Mas esta etapa sofreu um imprevisto que atrasou a evolução da pesquisa: “a pandemia atrapalhou bastante os nossos testes clínicos. Eles costumam ser demorados, cada paciente precisava ser acompanhado por mais de um mês. E nesse meio tempo, sempre surgia algum problema ligado à pandemia que interrompia os testes e nos levavam à estaca zero. Foi preciso esperar que ela fosse controlada para que pudéssemos avançar”, acrescenta Leonardi.
Passada a pandemia e realizado o protocolo de avaliação clínica do produto, os efeitos alcançados pela formulação no tratamento dos pacientes acometidos pela ceratose actínica foram positivos. “Os primeiros resultados e indícios são de que estaformulação é bastante eficaz. A testagem foi executada junto a um número maior de pacientes. Nós esperamos divulgar, até o final deste ano, os números finais dos resultados desta formulação, que vem apresentando resultados robustos até o momento”, detalha Leonardi. Ainda segundo ela, a pesquisa encontra-se atualmente em seu estágio final e não estão sendo feitos novos testes clínicos em pacientes.
Apoio da Inova Unicamp na proteção da tecnologia
Em virtude dos resultados promissores obtidos na primeira sequência de testes clínicos, a equipe de pesquisadores decidiu avançar no processo de proteção intelectual do invento. “Os números dos testes iniciais mostraram que a formulação alcançou uma ótima estabilidade e solubilidade. Por isso decidimos já iniciar a tramitação do depósito de sua patente”, afirma Leonardi.
Para isso, a Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp) forneceu a sua assessoria para executar a proteção de sua propriedade intelectual. A formulação desenvolvida pelos pesquisadores tem potencial de aplicação na indústria farmacêutica, sobretudo no desenvolvimento de novos medicamentos para tratamento de doenças de pele.
Leonardi conclui com um importante alerta: “Esta formulação é destinada especificamente para o tratamento de doenças como a ceratose actínica, entre outras enfermidades cutâneas, com boa possibilidade de sucesso. Mas vale lembrar que a ceratose actínica é uma doença que pode ser evitada e a prevenção é o melhor a se fazer. Para isso, é preciso evitar a exposição excessiva e duradoura da pele ao sol e adotar medidas de proteção solar. Nossa formulação pode auxiliar na cura da doença. Mas o ideal é não chegar a esse ponto”, alerta a pesquisadora.
Como licenciar uma tecnologia na Unicamp
A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, tais como patentes, cultivares, marcas, software e know-how. O contato e negociação é realizado diretamente com a Agência de Inovação da Unicamp pelo formulário de conexão com empresas. A Inova Unicamp também oferta ativamente as tecnologias para as empresas, com a intenção que o conhecimento gerado na Universidade chegue ao mercado e à sociedade. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp acesse o site da Inova.
A cerimônia de posse do Prof. Dr. Jörg Kobarg como novo diretor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp será no dia 12 de agosto, segunda-feira, com início às 15 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Educação da Unicamp.
A Diretoria da FCF será conduzida pelo diretor Prof. Dr. Jörg Kobarg e pela diretora associada Profª Drª Wanda Pereira Almeida no quadriênio 2024-2028. Eles sucederão os professores Rodrigo Ramos Catharino e Priscila Gava Mazzola, que estiveram à frente da Diretoria da FCF no período 2020-2024.