Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas
Mateus Biasoto de Mattos Santiago
Avaliação de métodos de extração e potencial farmacológico do bagaço de Vitis vinifera L.
Auditório da FCF
Presidente
Profª Drª Mary Ann Foglio — FCF / Unicamp
Membros titulares
Profª Drª Klicia Araujo Sampaio — FEA / Unicamp
Profª Drª Marcia Cristina Breitkreitz — IQ / Unicamp
Membros suplentes
Drª Jhessica Marchini Fonseca — Chemyunion Ltda.
Profª Drª Catarina Raposo Dias Carneiro — FCF / Unicamp
Profª Drª Alexandra Christine Helena Frankland Sawaya — FCF / Unicamp
Resumo
Os produtos naturais têm demonstrado ser um valioso recurso para trazer benefícios à saúde. A espécie Vitis vinifera L., é uma matriz que produz diversos compostos bioativos, com um extenso potencial para diversas aplicações dentro de indústrias do ramo alimentício, farmacêutico e cosmético. O principal uso da Vitis vinifera é na indústria de produção de vinho, que tem como seu principal resíduo o bagaço da Vitis vinifera. Esse resíduo, independente do caráter biodegradável, é considerado um poluente devido a grande quantidade em que é gerado no Brasil e no mundo. O estudo dos detritos de uma cadeia produtiva, visa não apenas aumentar o valor agregado do produto, mas também contribuir para a economia circular, reduzindo o descarte e permitindo que o resíduo seja aproveitado como um todo, beneficiando também a sociedade, conforme preconizada pela meta 12 da agenda 2030 da Organização mundial de saúde (ONU). Dentro dessa perspectiva este trabalho visa estudar processos de extração da Vitis vinifera para aumentar o rendimento de extração das antocianinas e substâncias fenólicas com fins de cicatrização de feridas, avaliando os extratos produzidos em cultura de células de queratinócitos (HaCat). Inicialmente, foram avaliados diferentes métodos de secagem do bagaço (liofilização, estufa a vácuo e blender rotativa) quanto à sua capacidade de preservar compostos de interesse. Os extratos produzidos pelo bagaço seco em estufa a 60 °C, utilizando vácuo, apresentou os melhores resultados em termos de rendimento de teor de fenólicos totais, antocianinas e atividade antioxidante (2354 µg EAG/g, 342 mg/L e 18 IC50 – µg/µg DPPH respectivamente), sendo o método de secagem selecionado para as etapas seguintes do estudo. Na sequência, a extração dos compostos foi otimizada utilizando planejamento experimental (DOE), com variação da concentração de etanol e aplicação de extração assistida por ultrassom (EAU), a fim de aumentar o teor de fenólicos totais e antocianinas totais extraídos. O estudo demostrou vantagem em utilizar a EAU estabelecendo a porcentagem ótima de etanol no solvente em 53,7%. Baseado nas condições estabelecidas para o processo foram produzidos extratos de bagaço de Vitis vinifera (BAG) e Vitis vinifera esmagada (ESM), a fim de avaliar o impacto do processo fermentativo da vinificação nas amostras. Os extratos produzidos foram analisados quanto ao teor de fenólicos totais, antocianinas totais, flavonoides totais, sólidos totais, polissacarídeos totais e potencial antioxidante (DPPH e FRAP). Os extratos foram analisados por LC-MS aplicando a avaliação metabolômica untarged. Os resultados demonstraram uma separação estatística clara entre os grupos BAG e ESM, demonstrando impacto da fermentação na composição química do extrato. Esses mesmos extratos foram avaliados para verificar seu potencial cicatrizante, realizado em cultura de células HaCaT (queratinócitos humanos). Os extratos BAG apresentaram ação proliferativa estatisticamente significativa nas concentrações de 15 e 150 µg/mL, com aumento de até 147,8% (p<0,05) na viabilidade celular, em contraste, os extratos ESM apresentaram efeitos mais modestos (56,3%; p>0,05), indicando que a fermentação enriquece o bagaço em compostos bioativos com ação proliferativa. Correlacionando os resultados de caracterização e potencial cicatrizante observou-se uma correlação estatística muito forte e significativa (ρ = 0,829; p = 0,029) entre o teor de flavonoides totais e a ação proliferativa em HaCaT, sugerindo que compostos como catequinas, quercetinas e procianidinas (flavonoides distintos das antocianinas) estão envolvidos com o efeito observado. Os resultados mostram que o extrato de bagaço de Vitis vinifera é uma fonte promissora de compostos bioativos, com potencial para aplicações farmacológicas. Os estudos in vitro com células HaCat sugerem que ele possui propriedades cicatrizantes, ressaltando a importância de valorizar e reutilizar o principal resíduo da indústria do vinho.