Texto publicado originalmente no Portal da Inova — Agência de Inovação da Unicamp, com repercussão em outros veículos, incluindo o Jornal da Unicamp
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Feito com extrato de planta nativa do Brasil, o gel tem sido utilizado em pacientes oncológicos para o tratamento de mucosite com testes que apontaram redução significativa no tempo de recuperação

Esta é uma das reportagens da série especial que compõe a Revista Prêmio Inventores 2025. A série destaca tecnologias da Unicamp licenciadas ou absorvidas pelo mercado e empresas spin-offs acadêmicas criadas no último ano.
Texto: André Gobi – Inova Unicamp | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um gel para o tratamento de lesões cutâneas capaz de acelerar processos de cicatrização. Devido à sua eficácia, foi iniciado estudo clínico fase 2/3 com o gel em casos de pacientes oncológicos para o tratamento de mucosite oral — inflamações comuns em casos de cânceres de cabeça, pescoço e transplantes de medula óssea.
O estudo que resultou no gel vem sendo realizado por um grupo multidisciplinar composto por pesquisadores de diversas unidades e centros da Universidade sob coordenação da pesquisadora Mary Ann Foglio, docente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp. Para o desenvolvimento do gel, foram usados extratos padronizados da Arrabidaea chica Verlot, sinonímia de Fridericia chica L., planta nativa do Brasil.
A partir do extrato da planta, foram desenvolvidas composições farmacêuticas em sistemas de liberação micro e nanoparticulados e lipossomas, assim como os seus processos de obtenção, gerando duas tecnologias protegidas que podem derivar outros produtos para o tratamento de lesões cutâneas. As tecnologias foram licenciadas com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp para o Instituto Sociocultural Brasil China (Ibrachina), que avançará no desenvolvimento e testes das tecnologias
Pesquisa já dura mais de duas décadas
A pesquisa que resultou no gel mucoadesivo cicatrizante teve início em 2003 com o estudo da variabilidade da espécie a partir de amostras da planta de diversas localidades do Brasil. Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o estudo monitorou as propriedades químicas e farmacológicas da planta e constatou que algumas de suas variedades produziam as substâncias com propriedades cicatrizantes em maior quantidade.
Após o estudo dessas variedades aliado ao monitoramento dos componentes bioativos e estudos farmacológicos foi possível a padronização do extrato e desenvolvimento da formulação mucoadesiva. Esses dados permitiram o início dos estudos clínicos no ambulatório de oncologia de cabeça e pescoço do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp e, em seguida, foram ampliados para estudo multicêntrico no ambulatório de transplante de medula óssea do HC e na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (HEMOAM), em Manaus, no estado do Amazonas.
Alternativa eficiente para pacientes em tratamentos oncológicos
Segundo Foglio, o principal uso do gel mucoadesivo tem sido para tratar a mucosite oral, condição que é um desafio no tratamento de pacientes com câncer, podendo surgir como efeito colateral da quimioterapia ou da radioterapia. Nesse sentido, o gel mucoadesivo se apresenta como uma alternativa eficiente para evitar infecções secundárias que comprometem ainda mais a saúde do paciente.
“Muitas vezes o paciente vai a óbito não pelo câncer em si, mas sim pela mucosite oral, que acarreta em outros problemas de saúde, até impedindo que o paciente se alimente”, diz a pesquisadora.
Ela explica que o tratamento da mucosite oral com o gel desenvolvido na Unicamp leva, em média, de dois a cinco dias. É um avanço significativo, considerando que o tratamento convencional com laser pode levar até quinze dias, aumentando o risco de outras complicações de saúde. Para chegar a essa média, foi realizado um estudo clinico randomizado, no qual foi comparado o uso do gel mucoadesivo à base de Arrabidaea chica com o uso de laser.
“Essa redução no tempo de tratamento é muito importante, pois cada dia de um paciente oncológico faz toda a diferença. Quanto mais tempo com a ferida, mais o paciente está vulnerável”, ressalta Foglio.
Segundo a docente, com base nos dados obtidos até o momento, no ambulatório de transplante de medula óssea do HC, foi aprovado pelo comitê de ética, em abril de 2025, um adendo permitindo que todos os pacientes que desenvolverem mucosite oral, após a profilaxia com laser, poderão ser tratados exclusivamente com o gel mucoadesivo de Arrabidaea chica Verlot.
Apresentação adequada pode viabilizar o produto
A atual fase da pesquisa está focada em desenvolver uma apresentação que possibilite o armazenamento do produto em temperatura ambiente, o que diminuiria significativamente os custos de produção, transporte e armazenamento, segundo a pesquisadora.
O extrato da Arrabidaea chica possui um grande poder antioxidante que o leva a uma degradação muito rápida, sendo necessário mantê-lo sob refrigeração para que seja conservado. Uma apresentação que permita seu armazenamento em temperatura ambiente é fundamental para que o produto se torne viável comercialmente.
Tecnologia licenciada e potencial de mercado
Mesmo em fase de testes, com apoio da Inova Unicamp, a tecnologia já foi licenciada para o Instituto Sociocultural Brasil China (Ibrachina). Um dos interesses do Instituto na tecnologia é fazer com que ela chegue ao mercado e melhore a qualidade de vida dos pacientes que sofrem com mucosite oral, explica Li Li Min, docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e coordenador de pesquisa do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (CPDI) Ibrachina e Ibrawork, que é residente no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, ambiente sob gestão da Inova Unicamp.
“A Inova foi fundamental nesse processo, pois além de viabilizar a execução de um edital e seleção de projetos, também intermediou o licenciamento. A Agência tem sido uma parceira desde a entrada do CPDI no Parque da Unicamp”, ressalta Min.
O contato entre a Ibrachina e a pesquisa com a Arrabidaea chica foi por meio do edital Open Innovation voltado para projetos de inovação na área da saúde humana, aberto pelo Instituto em 2024 dentro da Unicamp. Na ocasião, o projeto coordenado pela professora Mary Ann Foglio foi um dos selecionados pelo edital em um processo que contou com apoio da Inova Unicamp.
PRÊMIO INVENTORES 2025

Esta é a 18ª edição do Prêmio Inventores que a Inova Unicamp organiza com o propósito de reconhecer e valorizar os inventores engajados na transferência de tecnologias da Universidade e na criação de empresas spin-offs acadêmicas no último ano.
INVENTORES PREMIADOS NESTE LICENCIAMENTO:
Mary Ann Foglio (FCF), João Ernesto de Carvalho, Ana Lucia Tasca Góis Ruiz, Michelle Pedroza Jorge, Patricia Maria Wiziack Zago, Glyn Mara Figueira, Ilza Maria de Oliveira Sousa, Rodney Alexandre Ferreira Rodrigues, Leila Servat Medina (CPQBA), Marcos Nogueira Eberlin, Elaine Cristina Cabral Polcelli (IQ), Maria Helena Andrade Santana, Viviane Ferre de Souza (FEQ), Fabiana Volpe Zanutto (IB), Marcos Akira d’Ávila e Taís Helena Costa Salles (FEM) foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2025, organizado pela Inova Unicamp.
PROGRAMAÇÃO DE HOMENAGENS DE 2025:
A Inova Unicamp organizou uma série de homenagens em comemoração ao Prêmio Inventores de 2025, como as reportagens relacionadas a casos premiados, disponíveis para leitura nos sites da Inova Unicamp e do Prêmio Inventores, bem como em formato e-book na Revista Prêmio Inventores.
No dia 19 de agosto, a Inova Unicamp também promoveu o Webinar Prêmio Inventores, compartilhando casos de sucesso na proteção da propriedade intelectual e transferência de tecnologia da Universidade. Assista à gravação do Webinar no YouTube da Inova Unicamp.
As fotos da cerimônia de comemoração estão disponíveis no Flickr da Inova Unicamp.
Os premiados também receberam um certificado de reconhecimento, confira a lista completa de todos os premiados no site do Prêmio Inventores da Unicamp.
A edição de 2025 tem o patrocínio de ClarkeModet e FM2S.