Corticoide que trata covid-19 não deve ser usado sem receita médica.

Dexametasona não deve ser usada sem receita médica

 

Estudo aponta que a dexametasona reduz a mortalidade em casos graves da doença, mas seu efeito de inibir o sistema imune pode ser prejudicial.

A dexametasona, corticoide que reduz a mortalidade em casos graves de covid-19, segundo estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, não deve ser usada ou vendida sem prescrição médica. Sua utilização sem o acompanhamento de um profissional da saúde traz inúmeros riscos e pode prejudicar o combate a infecções virais em vez de ajudar.
 
Patricia Moriel, professora do curso de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que a dexametasona tem um potente efeito anti-inflamatório, por isso, é indicada no tratamento de doenças como reumatismo, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e alergias graves.
"Ela é prescrita para casos no qual o processo inflamatório está exacerbado", explica. De acordo com a especialista, é por isso que o medicamento se mostrou eficaz para pacientes em estado grave por causa da covid-19. 
 
"A covid-19 em estados graves causa um processo inflamatório incontrolado que pode ser diminuído com a dexametasona", afirma. "Por outro lado, os pesquisadores do Reino Unido mostraram que, para pacientes com sintomas leves, não teve efeito algum", destaca Patricia.
 
A especialista lembra que muitos hospitais já estavam usando o remédio nessas situações porque ele faz parte da rotina hospitalar no tratamento de inflamações. "Mas você ter um estudo fortifica o uso", pondera.
 
A grande preocupação agora é que a população corra para as farmácias em busca da dexametasona. "Os farmacêuticos devem seguir a regulamentação, que diz que ela deve ser vendida sob receita, não basta a pessoa ir lá e pedir", orienta.
 
Apesar dos bons resultado em pacientes em estado grave, Patricia acredita que não há chances de o medicamento passar a ser indicado para pessoas com sintomas leves da covid-19 porque seu efeito anti-inflamatório inibe a resposta do sistema imunológico a qualquer tipo de infecção.
 
"Num primeiro momento, quando temos uma infecção viral, a gente precisa que o sistema imune reaja e provoque uma inflamação controlada para combater o vírus", explica.
 
"Então, se você tomar sem necessidade, vai se prejudicar por diminuir a resposta do seu organismo a esses agentes. Quando há sintomas leves, esse processo de defesa do organismo já está controlado", detalha.
 
O pneumologista Fred Fernandes, doutor em ciências médicas pela USP (Universidade de São Paulo) e atual presidente da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia), também alertou sobre os riscos do uso de corticoides no tratamento da fase inicial da covid-19.
 
"Na fase inicial (azul) o que predomina é a replicação viral. Sabe o que corticoide faz com replicação viral? Aumenta. Então, é possível que nessa fase dar o remédio seja jogar mais gasolina na fogueira", escreveu em uma rede social.
 
Patricia explica que os corticoides não atuam diretamente na replicação viral, mas facilitam esse processo a partir da inibição do sistema imune. Além disso, ela destaca que esse tipo de medicamento não é preventivo."Não adianta tomar para não pegar o vírus. Para isso, só o isolamento social e a máscara servem".
 
Além disso, de acordo com ela, a dexametasona tem importantes efeitos colaterais, como aumento da quantidade de açúcar no sangue – o que traz riscos para quem tem diabetes – e retenção de líquido, que favorece o ganho de peso.
 
 
Brenda Marques, do R7
17/06/2020 – 12h47 (Atualizado em 17/06/2020 – 13h47)